Entrou no salão, ainda sem máscara. Sozinha. Percorria a
multidão buscando olhares que cruzassem com os seus.
Não reconhecia o lugar. Não reconhecia a música. Não
reconhecia nenhum dos rostos. Mas ansiava por conhecer.
Resolveu simular uma personagem em meio àquela confusão.
Vestiu adereços, assumiu a pose e dançou. Fingiu alguns passos, tentou imitar a
multidão. Todos pareciam estar no mesmo ritmo, na mesma felicidade. Sorriam,
dançavam, trocavam olhares.
Um passo em falso, a visão prejudicada pela máscara que não
lhe servia, ela caiu. Ninguém se ofereceu para levantá-la. Os joelhos sujos de
terra, confetes grudados pelas pernas, as mãos raladas que tremiam e o rosto
enrubescido só aumentavam o mal-estar.
Trancou-se num quarto.
Experimentou máscaras,
ensaiou passos, tomou a vodca de um gole só.
Saiu sem saber quem era. Camuflou-se ao ambiente, trocou
máscaras, falou com todos os personagens que cruzaram seu caminho.
Ao chegar ao outro lado do salão, todos haviam continuado
com suas danças, suas alegrias. Nenhum deles lembrava seu nome.
Resolveu abandonar aquela festa que não lhe pertencia.
Despiu a fantasia, abandonou a máscara.
Ninguém percebeu.
Se fosse outro, ninguém teria percebido.
Ninguém percebeu.
Se fosse outro, ninguém teria percebido.
Se fosse outro, também não teria percebido.
[da gaveta de rascunhos de 2012]
Um comentário:
mas as pessoas
que estão
a dançar
no salão
são
tão somente
almas penadas
assombrando o lugar:
só são relevantes
pra quem neles
acreditar
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