18 de janeiro de 2016

16 de janeiro de 2016

Descabida

Minhas emoções não cabem em mim.
Nunca couberam.
Vazam. Transbordam. Gritam por ar.

Já estive assim tantas vezes.
Descabida descabelada desnivelada sem fôlego.
Revira tudo por dentro.

Cansa.

Exaure.

Meu corpo se prepara o tempo todo para um ataque.
O coração bombeia mais sangue sem motivo aparente.
O fôlego se perde.
Se o ataque nunca vem, a preparação não acaba.
Só me ataca por dentro.
E se me perguntam "o que foi?" não tenho resposta.
É só meu sangue que ferve demais.

14 de outubro de 2015

conversa 020

Ela - Ele me chamou de meu amor.
Eu - Nossa. E aí?!
Ela - Ah, acho que é só força do hábito, já tô vacinada.
Eu - Cuidado!
Ela - Haha sim. Eu gosto de drama, né, amiga, não de relacionamentos.

22 de julho de 2015

deixa pra amanhã

Adormeci criando um texto inacabado em minha mente.
Pensando em mais palavras que não escrevi.
Sonhei vazio.

Adormeci criando uma história inacabada em minha memória.
Pensando em mais uma vida que não vivi.
Sonhei um desvario.

Adormeci criando um arrependimento em meu passado.
Pensando em mais um momento que não segui.

Sonhei e rio

de mim mesma.

Riso nervoso.

Despertei pensando que é isso que sempre fiz.

30 de maio de 2015

baile


Entrou no salão, ainda sem máscara. Sozinha. Percorria a multidão buscando olhares que cruzassem com os seus.
Não reconhecia o lugar. Não reconhecia a música. Não reconhecia nenhum dos rostos. Mas ansiava por conhecer.
Resolveu simular uma personagem em meio àquela confusão. Vestiu adereços, assumiu a pose e dançou. Fingiu alguns passos, tentou imitar a multidão. Todos pareciam estar no mesmo ritmo, na mesma felicidade. Sorriam, dançavam, trocavam olhares.
Um passo em falso, a visão prejudicada pela máscara que não lhe servia, ela caiu. Ninguém se ofereceu para levantá-la. Os joelhos sujos de terra, confetes grudados pelas pernas, as mãos raladas que tremiam e o rosto enrubescido só aumentavam o mal-estar.
Trancou-se num quarto. 
Experimentou máscaras, ensaiou passos, tomou a vodca de um gole só.
Saiu sem saber quem era. Camuflou-se ao ambiente, trocou máscaras, falou com todos os personagens que cruzaram seu caminho.
Ao chegar ao outro lado do salão, todos haviam continuado com suas danças, suas alegrias. Nenhum deles lembrava seu nome.
Resolveu abandonar aquela festa que não lhe pertencia. Despiu a fantasia, abandonou a máscara.
Ninguém percebeu.
Se fosse outro, ninguém teria percebido.
Se fosse outro, também não teria percebido.

[da gaveta de rascunhos de 2012]

17 de maio de 2015

condenada

porque é tão difícil ser livre. e por quê?
prendemo-nos para nos defender de nós.
não posso. não devo.
a liberdade sai da rotina.
a liberdade não tem roteiro.
a liberdade é um gato selvagem de garras afiadas, não se pode domar.
a liberdade inunda.
a liberdade pode estar muito quente ou muito apimentada.
a liberdade não limpa os pés antes de entrar.
a liberdade não controla o volume da voz.
você não vai domá-la, vai correr junto.
cansa, mas recompensa.
a condenação sartriana que tira o rumo, mas dá sentido à existência.
mover cada peça do seu próprio jogo, que não vem com manual de instruções.
anseio pela liberdade. e essa ansiedade é também medo.
então corro.
sem saber se perseguindo ou fugindo, corro.

23 de fevereiro de 2015

em branco

sei que o pessoal do copo meio cheio costuma dizer que cada novo dia é uma tela em branco.
mas quem vem limpar meus pincéis sujos aos domingos?

25 de janeiro de 2015

Amar é habitar outros mundos.

Amar é habitar outros mundos. E a alguns custamos tanto a nos adaptar.
Às vezes a viagem de ida é longa demais e a estadia muito curta. A volta, invariavelmente abrupta. No meio do caminho, nos põem pra fora de paraquedas e falta o chão. Difícil aterrissar em vez de cair. Você sabe que pode quebrar as pernas, mas acha que ainda está longe do solo. Você sabe que precisa procurar o caminho de volta, mas espera atônita pelo resgate. 

Você embarcaria novamente?
Arriscaria explorar outro mundo tão cedo?
Alguma vez a viagem será sem volta?

Alguns se apressam em comprar novas passagens. Mas não. Eu acho que, por enquanto, vou construir meu próprio mundo. Que seja sólido o suficiente pra próxima vez que eu precisar cair.

4 de dezembro de 2014

8 de março de 2014

não me dê flores, leia este texto.



"Feliz Dia da Mulher"

Você, mulher, ouviu ou leu essas palavras hoje?
Você, homem ou mulher, disse ou escreveu essas palavras alguma vez?

Eu imagino que sim.
Mas também imagino que você não tenha se perguntado por quê.

Primeiro, a boa notícia: não é culpa sua.
Talvez nunca ninguém tenha te contado algumas coisas.

Agora vamos à má notícia: nós não estamos felizes.



Ontem, no trabalho, se eu quisesse teria a opção de aproveitar 15 minutos de massagem grátis. Tratamento VIP oferecido apenas às mulheres por seu dia. Ao sair pra almoçar, eu não tive a opção de não ser verbalmente abusada por um motorista que diminuiu a velocidade ao passar por mim em uma rua vazia. Tratamento social oferecido às mulheres todos os dias.

Você provavelmente deseja um feliz Dia da Mulher como quem deseja feliz Páscoa ou parabéns, porque parece a coisa certa a se fazer. E, talvez, pelo mesmo motivo um empregador ou dono de estabelecimento oferece rosas, bombons... Ou mensagens equivocadas como “você trabalha, cuida da casa, filhos e continua linda e de salto alto” (perpetuando a ideia de que, mesmo conquistando seu espaço no mundo, a mulher continua responsável pelo trabalho doméstico e, depois de tudo, ainda deve zelar por sua imagem meramente decorativa).

Mas não, o Dia Internacional da Mulher não é isso. O Dia Internacional da Mulher é outra coisa.


A data foi proposta pela primeira vez em 1910 por operárias que lutavam por igualdade nas condições de trabalho. Durante aquela década, ocorreram muitas manifestações na Rússia, Alemanha, Áustria, Dinamarca e nos EUA, incluindo uma ocasião que terminou em incêndio numa fábrica em NY, em 1911, matando 125 mulheres. Uma grande greve oficializou a data em 1917 na Rússia – onde o dia 8 de março é feriado. Em 1977, a ONU reconheceu o 8 de março como Dia Internacional da Mulher.

Hoje, a data originada pela luta contra séculos de opressão e a favor da igualdade entre gêneros teve seu sentido esquecido e foi transformada em uma celebração comercial...

Apenas 31% das brasileiras se descrevem como feministas. Prefiro acreditar que as outras apenas não procuraram o significado da palavra no dicionário a acreditar que elas realmente não sejam a favor de tudo o que já conquistamos.
Se hoje você tem a opção de escolher sua profissão, trabalhar fora, dirigir, votar, escolher seu/sua parceiro(a), fazer sexo sem compromisso, dar suas opiniões em uma reunião, decidir se casar ou não, ter filhos ou não, todas essas foram conquistas feministas – o movimento que luta pela igualdade de gênero e o fim da opressão feminina (recomendo o texto da Clara Averbuck, Feminismo para leigos).

Mas pensar que todos os direitos já foram alcançados não poderia ser mais inocente. Num mundo ideal, o feminismo não seria necessário. Mas ainda não vivemos em um mundo com igualdade para todos(as).

Negar a necessidade desta luta é negar que, 100 anos depois, mulheres ainda não têm as mesmas condições de trabalho dos homens. Que, na mesma posição, recebem até 30% menos. É negar que mulheres são assediadas verbalmente e fisicamente nas ruas. É negar que muitas são abusadas dentro de casa. É negar que a maioria ainda realiza todo ou maior parte do trabalho doméstico. É negar que, em muitos países, são impedidas de trabalhar, estudar, dirigir, votar ou tomar decisões. É negar que temos a sexualidade controlada, vigiada e considerada a serviço masculino. É negar muitos outros direitos que ainda não temos.


Por tudo isso, estou exausta de ouvir esses “feliz dia da mulher” vazios de significado. De receber presentinhos que não agregam em nada à data. De ver piadas e comentários preconceituosos nas redes sociais. “Haha 8 de março é dia de fulano!” (não, não basta ser homofóbico e achar que é ofensa dizer que um hétero é gay, precisa ser misógino e achar que gays querem se ~rebaixar ainda mais e virar... mulheres!). “Hoje é dia da mulher... Mas só das que têm perereca” (vi essa pérola da transfobia por aí. Porque se às mulheres cis ainda são negados direitos, as trans não podem nem participar da luta). “Hoje é dia dos acidentes de trânsito” (é, décadas atrás as mulheres não sabiam dirigir, porque, né, elas não podiam). "Obrigado por estarem sempre lindas pra nós, homens" (assumindo que todas gostam de homens. E que devem sempre se preocupar com sua aparência para eles).

E, porque estou exausta, resolvi escrever tudo isso, mesmo não tendo costume de fazer esse tipo de post. Não pretendo fazer um tratado sobre o Dia da Mulher. Tem gente por aí escrevendo muito melhor que eu sobre isso (só pra citar exemplos: Clara Averbuck, Lola, Blogueiras Feministas e muitas outras). Só pretendia resumir um bocado de informação que considero importantíssima para a construção de uma sociedade melhor.


Se você leu até aqui, por favor espalhe e divida a informação. E, se tiver um tempinho, entre nos blogs linkados no post e aproveite o banquete de conhecimento.

E não, não é ofensivo oferecer flores ou felicitações.
Mas o que queremos mesmo é usar este dia pra lembrar a nossa luta.

27 de fevereiro de 2014

conversa 018

Ela - Mandei um email pro CEO da loja e resolveram meu problema no mesmo dia.
Queria que tudo tivesse um CEO.
Eu - A vida podia ter um CEO. "Em caso de dúvidas, mande email pro CEO".
Ela - É difícil achar o email do CEO.
Eu - Da loja ou da vida?
Ela - O da loja eu chutei. O da vida deve ser muito difícil.
(depois, comentando sobre uma notícia absurda) 
Eu - Aí, o mundo tá acabando porque não tem CEO.
Ela - Ou porque ninguém tem o email dele.

17 de outubro de 2013

conversa 017

Ele - Acho que estou ficando doente.
Eu - Gripe?
Ele - Não, é esse clima de São Paulo que não para de mudar.
Eu - Ah, é imprevisível mesmo... O bom é que temos todas as estações o tempo todo.
Ele - Não, não, esse clima não faz sentido.
Eu - A vida também não faz.
Ele - A vida também me deixa doente.

17 de setembro de 2013

amadurecer:


tem gente que acha que é parar de se divertir.

tem gente que sabe que é parar de se preocupar.

4 de setembro de 2013

conversa 016

- Você podia fazer uma resenha sobre esse aplicativo.
- É. "Só tem maluco nessa porra. Fujam."
- Haha. Podia ser uma resenha sobre a vida. "E a vida? Só tem maluco nessa porra. Fujam."